Be Geeks na CCXP 2018 - Entrevista com Fran Briggs
Fran Briggs ganhou notoriedade recentemente com seu mangá Mercenário$. Sua carreira, no entanto, começou numa das mais importantes editoras brasileiras: a Trama Editorial. Lá era publicado a série de mangás de Holy Avenger, passada no mundo de RPG de Tormenta. Criados por Marcelo Cassaro, Rogério Saladino e J. M. Trevisan, Tormenta é repleto de espécies fantásticas que a princípio remetem ao mundo de Senhor dos Anéis, como homens, elfos e anões. Este mundo de RPG é um dos mais conhecidos no Brasil, assim como Holy Avenger foi um sucesso no início dos anos 2000. Além de Holy, no qual Fran chegou até mesmo a escrever edições especiais junto com Petra Leão, ela também se envolveu em outros títulos da Trama, como Victory 2 e Dado Selvagem.
Fran é esposa do dublador Guilherme Briggs, mais conhecido por dar voz a personagens como Buzz Lightear, Mickey Mouse, Superman e Optimus Prime. Atualmente escreve mangás em parceria com a desenhista Anna Giovannini, todos lançados pela editora Jambô. Das suas HQs, as que se destacam são: Mercenário$, que conta uma história de fantasia medieval onde não há heróis. Os principais são o elfo mau-caráter Domenik Windslasher, a pistoleira Savanna e o bandido Max, e este trio de anti-heróis acaba se envolvendo em várias aventuras e desventuras. O terceiro volume desse mangá lançou na CCXP 2018. Anima, por outro lado, é uma releitura de A Bela e A Fera, mas que se afasta da história da animação da Disney com o seu desenrolar, trazendo novos personagens, inclusive. Memento Mori é protagonizado por Sofia, que busca desvendar o mistério do desaparecimento de quatro adolescentes. Essa HQ também teve sua continuação lançada na CCXP 2018.
Esta é a terceira de uma série de entrevistas com artistas brasileiros realizadas na CCXP. Confira abaixo:
AA: Há quanto tempo você está nesta área de HQs?
FB: Eu comecei com 19, mas eu fiquei parada durante uns 10 anos. Depois eu voltei em 2015, então tem aí uns 17 ou 18 anos. Eu voltei a fazer quadrinhos numa CCXP, porque a gente tava com um projeto independente e pensamos: “Cara vamos tentar lançar na CCXP de 2015”. Nós ouvimos falar que a de 2014 tinha sido legal, aí a gente veio na de 2015 e o público aceitou o trabalho, gostou bastante.
AA: Tem algum quadrinho que você tá lançando aqui na CCXP?
FB: Tem sim, eu tô lançando a terceira edição da série do meu quadrinho Mercenário$, que eu tenho ele no Apoia-Se pra quem prefere em PDF e tem a versão impressa pela editora Jambô. E tem o segundo volume de um quadrinho chamado Memento Mori, que é um quadrinho mais de suspense.
AA: E qual o projeto que você mais gostou de fazer?
FB: Tem dois: Mercenário$, porque eu demorei dez anos pra conseguir voltar. E eu tentei muito até eu conseguir, então eu sinto que ele é uma superação. Teve muita gente que falava: “Ah você devia desistir porque você tentou muito” e eu usava essa raiva como força motriz pra fazer. E tem Anima, que é um quadrinho de romance, uma releitura de A Bela e A Fera. E foi também quando eu voltei a fazer quadrinhos junto com Mercenário$.
AA: Você prefere o mercado editorial ou o independente?
FB: Eu gosto dos dois, mas acho que cada um tem os seus prós e contras. O editorial é legal porque você tem sempre um editor pra te guiar ali, pra te ajudar onde você tem aquela dificuldade. Quando você tem um editor, o público se sente mais confiante com o seu trabalho, porque um artista estar numa editora passa ideia de que ele trabalha bem, é responsável e vai continuar produzindo. Já o independente dá mais liberdade, e é ele que força a gente ter mais contato com o público. Porque se depender do artista, ele fica numa caverna, e é o independente que te obriga a ter contato com seus leitores, pois você não tem quem faça seu marketing a não ser você mesmo. Além de que faz você saber mais sobre o passo a passo de criar um quadrinho. Às vezes as pessoas não imaginam a dificuldade que tem. No independente você faz tudo, então você começa a ver o mercado de outra forma.
AA: E qual seria o contra de trabalhar no editorial?
FB: Da parte editorial o problema é o seguinte: às vezes a gente acha que o que estamos fazendo tá maravilhoso. Aí vem o editor e fala assim: “Olha só, melhor mexer nisso e naquilo”. Algumas pessoas podem achar isso ruim, aí isso pode ser um contra pra pessoa. Mas eu acredito que tudo que for pra melhorar o seu trabalho, você tem que aceitar a crítica construtiva. Então é isso que a pessoa pode achar como contra, é ter uma pessoa regulando o seu trabalho pra uma linha editorial. Eu não tenho esse problema, porque já tenho editores que conhecem o meu trabalho há muito tempo. Então eles já sabem o que eu quero passar. E tudo o que eles fazem pra mudar, eu entendo o que eles querem, porque eu já os conheço, e eles entendem o meu estilo, pois já me conhecem.
AA: E pra você que tá no mercado desde os anos 90, como que era a concorrência? E você acha que o mercado de hoje está mais aquecido?
FB: Eu acho que está mais aquecido, que a gente tem muitas opções. E eu não acho que existe concorrência. Porque eu acredito que tem público pra todo mundo. Acredito que você tem que fazer um trabalho bom pra conquistar o público. Eu acho muito triste quando artistas se veem como concorrentes, porque mesmo que a gente esteja em expansão no mercado de HQs, o nosso mercado ainda é muito pequeno visto o japonês, o europeu, o americano. Então eu não vejo concorrência. Tem muita gente que é do Comix, do nicho alternativo e eu troco experiência. Eu acho que a gente tem que tomar cuidado com o ego, porque se não a gente vai pensar que o outro é concorrente. E acho que a gente tem que confiar no nosso trabalho, melhorar o que tem que melhorar. De repente, o seu quadrinho não é pro público daquele outro, pois é pro seu público e você tem que achar esse público, e não ver o outro como inimigo. Eu tenho que me preocupar com o meu trabalho, o meu melhor, eu tenho que me superar. Não é achar que eu tenho que superar o outro, é me superar.
AA: Você acha que o mercado de quadrinhos está diminuindo?
FB: Eu não acho que está diminuindo, eu acho que com a crise as pessoas estão comprando menos. Mas por exemplo eu tenho uma campanha no Apoia-Se, e às vezes entra algumas pessoas, às vezes saem, então sempre tem essa montanha russa. Mas pelo Apoia-Se, eu penso que as pessoas estão vendo que quadrinhos é uma forma de arte que elas não tinham reparado ainda. Acho que antes elas pensavam que era coisa de criança. E hoje tem uma aceitação maior das pessoas chegar e ter o orgulho de dizer: “Eu gosto de quadrinhos”. E por esse mercado estar crescendo, hoje temos eventos como a CCXP, que é um evento de grande porte e cada ano aumenta mais.
AA: Você vê alguma dificuldade em fazer quadrinhos no Brasil?
FB: Vejo, porque não é todo artista que ainda consegue se manter com quadrinho aqui. Justamente por a gente não ter cultura de produção, o público acompanhar, aquele fã que acompanha o produto nacional, como acompanha o de fora. Tanto que tem muitos quadrinistas que precisa ter um emprego pra pagar as contas, que às vezes não tem nada a ver com quadrinhos, enquanto que ele produz HQs ao mesmo tempo. Porque só com o gibi, ele não consegue pagar as contas, e então o quadrinho vem como uma segunda profissão, mas o amor que o “cara” tem ou a “mina” tem por produzir do que por se pagar. Então acho que é complicado por isso, não é todo mundo que consegue se manter fazendo quadrinhos.
AA: Fran, como que foi ter trabalhado na Holy Avenger?
FB: Então na real eu comecei a produzir quadrinho de maneira profissional pelo mundo de Tormenta graças ao Marcelo Cassaro, a quem eu sou muito grata, porque foi quem me deu oportunidade. Eu escrevi alguns especiais de Holy, fui co-autora de Victory 2 / Dado Selvagem, e foi maravilhoso. E tudo que eu aprendi com ele, eu uso atualmente. Então eu fico muito feliz de ter trabalhado com ele porque até hoje eu tenho uma amizade com o Cassaro. O meu editor agora pela Jambô é o Saladino, que também foi criador de Tormenta. Acho que eles fizeram um trabalho incrível naquele mundo de RPG.
AA: E o que foi que mais te marcou neste período?
FB: Foi saber que as histórias que invento na minha cabeça agrada as pessoas. Porque desde pequena eu invento histórias. Eu pegava as páginas do meu caderno, quadrinizava e fazia historinha com boneco de palitinho. E eu nunca imaginei que essas histórias pudessem encantar as pessoas. Aí quando eu venho num evento que a pessoa chega e fala: “Caraca gostei muito de tal coisa que você fez”, isso é muito legal. Porque, pra gente, cada história é como um bebê, a gente se orgulha e tem medo de mostrar o bebê e a pessoa falar: “Nossa que criança feia”. E de repente alguém chega e fala: “Esse seu bebê é até bonitinho”, a gente fica muito feliz.
AA: Por que você virou quadrinista?
FB: Porque eu precisava contar histórias. Desde pequena eu gostava de ler, eu não tinha muito acesso a livros porque eu vinha de uma família que não tinha muita condição financeira. Então eu sempre pegava emprestado, pegava em biblioteca e eu não podia viajar muito, então eu criava mundos na minha cabeça. E desse mundo eu criava personagens. Foi por isso que eu criei histórias, porque eu precisava dar vida a esses personagens e a esses mundos que eu criava na minha cabeça.
Conheça as redes sociais da Fran e campanha no Apoia-Se:
Tumblr: franbriggswriter.tumblr.com
Instagram: @franbriggs
Apoia-Se: Mercenário$
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