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Alexandre Agassi

Be Geeks na CCXP 2018 - Entrevista com o chargista Ota, da antiga revista Mad


A nova série do Ota conta com duas novas namoradas: Bibi e Kiki, as garotas bipolares! Ilustração retirada do site oficial do autor.

Otalício Costa d’Assunção Barros, 64 anos, mais conhecido como o Ota, é um renomado chargista brasileiro, que marcou a infância de muitos adolescentes de 12 a 14 anos ao longo das décadas de 70, 80 e 90. Seu sucesso surgiu quando trabalhou para a revista Mad, onde foi editor e produziu os famosos “Relatórios Ota”. Em cada edição da revista, o seu personagem, o Ota, “um retrato de si mesmo”, segundo ele, tratava de um assunto notório. Ao todo Ota junta 40 anos de carreira profissionalmente e 60 desde que começou a desenhar.

Ota esteve na Comic Con Experience (CCXP) no Artist’s Alley e me concedeu uma entrevista aqui para Be Geeks. Ota conta um pouco de sua trajetória, os seus fãs que encontra nos eventos de quadrinhos, os seus novos personagens, dentre eles a Garota Bipolar e muito mais.

Esta é a primeira de uma série de entrevistas com artistas brasileiros realizadas na CCXP. Confira abaixo:

Ota na CCXP 18. Foto: Alexandre Agassi.

Alexandre Agassi: É a sua primeira vez aqui na CCXP? E o que você tá achando da feira?

Ota: Não, é a minha terceira vez, eu venho desde a terceira edição da Comic Com e essa é a quinta. E a Comic Con é assim, de repente fica uma muvuca porque passa um popstar aqui. E é muito legal o carinho dos fãs: “Ah eu lia a Mad quando criança”. Inclusive todos falam a mesma coisa, parece que deram o mesmo script e só muda o corpo: “Eu te acompanho desde moleque. A gente te lia na escola e a professora tomou. Minha mãe jogou fora a coleção. Você mudou a minha vida.” É assim, todos falam basicamente a mesma coisa. Eu fico feliz porque eu não sabia que tinha tantos fãs. E descobri isso quando comecei essa minha vida de emulante, que eu virei um camelô de mim mesmo. Porque agora eu comecei a fazer minhas produções independentes, não estou vinculado a nenhuma editora. O mesmo dinheiro que ganho aqui, eu mando imprimir mais. Vendo muito pelo correio. E eu não tenho muito como distribuir em livraria, até porque essas livrarias como a Saraiva, a Cultura etc. não estão pagando. Então é melhor eu vender direto ao leitor, já dou o autógrafo.

AA: E você acha melhor então o mercado editorial ou o independente?

Ota: Eu prefiro o mercado independente porque eu tenho muito fã perdido por aí e tem dia que eu vendo sei lá vinte revistas. Eu fico só fazendo pedido, posto no Facebook e no Instagram. E o Instagram agora está bombando, virou a melhor rede social. Metade do tempo é administrando isso e a outra metade é desenhando. Mas está indo bem, está legal.

AA: Quando você deu vida a esse personagem icônico seu, que é o Ota?

Ota: Essa é uma história interessante. Eu comecei a colocar o Ota aparecendo como algumas referências, como no Relatório Ota. Aí uma vez uma mulher falou: “Ah você que faz o Ota, gosto muito do seu trabalho”. E eu falei: “Espera aí. Eu não faço o Ota, eu sou o Ota”. E ela: “Mas o Ota é um personagem”. E foi isso. O personagem é bom pra qualquer autor. No meu caso eu criei o meu personagem, me retratei, pus mosquinhas, sem tomar banho.

AA: Do que se trata a Garota Bipolar?

Ota: Então em Garota Bipolar, é o relacionamento deles dois [o Ota e a Bibi, a Garota Bipolar] durante uma semana. Eles se separam depois de uma semana, mas vai levar uns 7 anos pra sair do namoro. Ele só se mete em encrenca. Cada hora acontece alguma coisa, e ele é apaixonado por ela, e ela por ele, mas eles são um casal que não transa.

AA: Você acha que a concorrência era maior antigamente ou você acha que o mercado está mais aquecido hoje?

Ota: Antigamente era assim: a pessoa ia com o seu portfólio debaixo do braço e levar pro editor do jornal pra mostrar ou mandar pelo correio. Hoje qualquer um pode publicar na internet. A pessoa faz um blog, publica e tem que divulgar. No meu caso, eu tenho uma fama residual da época da Mad. E eu tinha um público muito grande porque Mad vendia muito. Eu tinha uns dois milhões de fãs juntando porque era um público dos 12 a 14 anos. Depois o leitor achava a maior bobagem e ia ler Playboy ou outra coisa melhor. E cada exemplar era lido por quatro molequinhos. E vendia 150 mil exemplares naquela época então tinham 600 mil leitores a cada geração. Como foram várias gerações de leitores porque foram uns 15 ou 20 anos assim.

AA: Pra você, que trabalha há décadas fazendo charges, você acha que o humor hoje passa por algum tipo de limitação ou barreira, coisa que não havia nos anos 70, 80 ou 90? Ou o contrário, você acha que o humor tem mais liberdade hoje?

Ota: Olha é o seguinte: nos anos 70, nos tempos da ditadura, só não podia falar mal do governo. O resto podia qualquer coisa. Agora só pode falar mal do governo. Fazer piada com gordo, com loira, não pode mais. Com português não pode. Piada com gay, com preto. E às vezes na piada você nem tá ofendendo eles assim, mas sempre tem uma minoria que cria caso. E eu sempre tive consciência, as minhas piadas não eram preconceituosas. Elas mostravam, por exemplo, como era o dia a dia de um cego.

AA: Então você considera que é uma minoria de pessoas que barra a liberdade do humorista?

Ota: Sim, porque hoje em dia uma pessoa que fica ofendida com alguma coisa viraliza pra um milhão de pessoas e já querem linchar. E o cara nem vai ver e já fala: “O Ota fez uma piada machista”. Eu não faço piada machista mais. Já fiz, hoje nem tanto. E já fazem pelotão de fuzilamento e nem lê.

AA: Você vê alguma dificuldade em fazer quadrinhos no Brasil?

Ota: Não. Basta você ter um papel, caneta, ferramentas digitais, uma mesa e talento, gente pra fazer. Só que a pessoa só melhora, exercendo diariamente. Então quem tá começando agora, vai pegando as manhas e é natural, como qualquer profissão. Com quadrinhos tem que desenhar todo dia.

 

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