Constantine: Cidade dos Demônios | Crítica – O melhor universo da DC é o animado
Criado em 1985 por Alan Moore, o ocultista John Constantine primeiramente fez parte do selo Vertigo, da DC Comics. Voltado para um público mais adulto, suas histórias em quadrinhos (HQs) conquistaram uma legião de fãs graças ao jeito arrogante e desleixado do personagem. Sua popularidade cresceu ainda mais com o lançamento do filme de 2005, estrelado por Keanu Reeves, que apesar de não ser fiel ao material das HQs, agradou a crítica como um todo. O mesmo não pode ser dito da série live action Constantine, lançada em 2014 e cancelada em 2015, fechando com um total de apenas uma temporada. Apesar da fidelidade na caracterização, no qual o ator Matt Ryan se parece muito com a versão dos quadrinhos, a série sofreu com a limitação dos estúdios da NBC, visto que a empresa proibia certas características básicas de John, como fumar. A salvação do personagem estrelado por Matt Ryan acabou sendo o canal CW, que adquiriu o direitos de Constantine e o colocou no famoso Arrowverse, fazendo participações importantes nas séries do momento, como Arrow e Legends of Tomorrow.
Graças a inteligência e capacidade da DC/Warner (o igual não pode ser dito sobre os filmes live-action), o personagem agora faz parte do DCAMU, Universo de Filmes Animados da DC. Composto por onze animações e com todas se passando no mesmo universo, o charlatão inglês fez a sua estreia em Liga da Justiça Sombria (2017). Dessa vez, ele teve a oportunidade de ter o seu próprio longa-metragem, protagonizando uma trama totalmente inédita. Ou seja, sem conexões com o Constantine da série live-action, ainda que Matt Ryan seja o dublador. Essa escolha não poderia ter sido mais acertada, visto que a DC/Warner soube acertar a tonalidade restante para adaptar um conteúdo adulto dos quadrinhos para as telonas, mesmo em forma de animação.
Com uma trama que precede os eventos de Liga da Justiça Sombria (não é obrigatório, mas se possível, recomendamos assistir antes), acompanhamos um Constantine muito semelhante aos quadrinhos de Hellblazer. Um homem arrogante, despreocupado com a vida, viciado em cigarros e visivelmente traumatizado pelos eventos do passado. É claro que para quem acompanhou os quadrinhos do anti-herói sabe que a história de origem apresentada na animação não é a mesma. Todavia, levando em conta todas as adaptações que já foram feitas, esta é a que mais se assemelha com o material original. Indo mais além, por vezes é mais cativante e emocionante do que aquela considerada canônica pelos fãs mais antigos. Obviamente, a personalidade de John Constantine é um dos fatores que mais atrai seus fãs, mas saber de seu passado e como isso afeta o seu presente torna-se interessante, aumentando ainda mais a empatia pelo ocultista.
Os demais personagens que acompanham Constantine durante a trama provam não ser apenas meros coadjuvantes. Chas Chandler, o melhor amigo de John durante toda a vida e que esteve com ele no massacre de Newcastle, retorna após anos sem ver o companheiro. Sua chegada não é por acaso; ele necessita de ajuda para salvar sua filha, acreditando que ela possa estar sofrendo do mesmo mal ocorrido anos atrás na cidade inglesa. Embora relutante em certos momentos, ele sabe que John é a única pessoa que pode lhe ajudar, independentemente caso isso tenha um preço a se pagar, algo no qual ele está disposto a fazer. Indo para o mundo místico, temos a introdução de dois personagens nos quais as adaptações também seguiram fiéis aos quadrinhos. Finalmente foi possível ver Asa, a Enfermeira Pesadelo, em ação. Uma criatura metamórfica com dons de cura, tanto no lado místico quanto no mundo dos humanos, além de já ter um passado com Constantine. Como sempre, graças a sua lábia e poder de persuasão, o ocultista convence Asa a partilhar de sua ajuda. Sua participação não é decisiva ou de grande importância à trama, entretanto, vale a pena pelo fã service e também por saber que a DC/Warner seguem preocupadas em expandir e explorar ainda mais seu universo de animações. Um dos clichês fundamentais não foi mudado. Se temos um bom anti-herói, temos um bom vilão. Responsável pelos males contra a filha de Chas, o demônio Beroul demonstra ser um grande desafio para John Constantine, principalmente com o desenvolver da trama mostrando que ele é muito mais do que aparenta ser, principalmente seu envolvimento com o passado do mestre das artes místicas.
A qualidade da animação segue sendo algo exemplar e que deve ser seguida por outros estúdios. Frequentemente, os fãs reclamam da Warner em relação aos problemas com os filmes em live-action, pois muitas vezes acabam por dividir a opinião dos espectadores e crítica. Mas, graças a liberdade dada ao diretor Doug Murphy e ao produtor Greg Berlanti, o desenho ganha uma carga dramática e emocional muito superior, evidenciando a liberdade criativa para a produção, desde os roteiristas até o elenco. Inclusive, a experiência de Berlanti agrega um valor ainda maior, visto que ele também é responsável pelas séries do Arrowverse, mostrando que sua flexibilidade com animação e live-action segue apurada.
Constantine: Cidade dos Demônios revela o potencial de exploração que a DC/Warner pode obter com seu universo de filmes animados. É claro que todos amamos as animações com figuras clássicas como Batman, Superman, Mulher Maravilha, Flash, etc. Todavia, esses materiais de qualidade indo mais além da gama de heróis e anti-heróis da DC consolida o estúdio como líder no segmento. Isso não só acarreta em bons números de audiência, mas também desperta o público para se aprofundar em outras mídias desses personagens: filmes, quadrinhos, séries, dentre outros. A DC pode não ter o melhor universo cinematográfico, mas de longe possui o melhor universo animado e sabe como ninguém a forma de manter seu público fiel, além de seguir atraindo novos. Nota: 5/5
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