Crítica | Entre Facas e Segredos – Uma sátira do parasitismo social
Em 2017, o diretor Rian Johnson foi alvo de uma chuva de críticas e ódio nas mídias e redes sociais devido ao seu polêmico e divisivo filme Star Wars – Os Últimos Jedi. Muitos fãs não só execraram o diretor, como também o “hate” em relação ao filme fez com que alguns deles se sentissem a vontade para manifestar preconceito e intolerância. Isso aconteceu quando a atriz Kelly Marie Tran sofreu ofensas racistas em seu Twitter devido ao ódio em relação à sua personagem Rose Tico.
Como cineasta, Johnson se expressou através de seu novo filme, Entre Facas e Segredos. O diretor usou a negatividade e o sofrimento dessa experiência para escrever e comandar uma história que não tem só como base um drama de mistério policial, mas também aparenta ser uma sátira à hipocrisia e leviandade da sociedade vigente.
Escrito e dirigido por Rian Jonhson, o longa é protagonizado por Daniel Craig, Ana de Armas, Chris Evans, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon, Don Johnson, Toni Collete e Christopher Plummer. Após a noite de seu aniversário de 85 anos, Harlan Thrombey, um escritor de mistério é encontrado morto, com a causa aparente de suicídio. Porém, o detetive particular Benoit Blanc investiga a família do patriarca, com a suspeita que exista uma trama ainda maior que envolve homicídio.
Assim como em Os Últimos Jedi, Johnson soube usar bem o recurso do Plot Twist. O filme tem reviravoltas interessantes e sabe brincar com a mente do espectador. O mistério que dá base à trama aparenta ser revelado ao público no início do filme, porém, se a audiência, assim como o detetive protagonista, faz as perguntas certas e tenta “amarrar as pontas soltas”, é possível enxergar uma história ainda maior, permeada por uma conspiração.
Em termos de montagem, o filme é linear e a trama se desenrola de maneira fluída. Os flashbacks são bem trabalhados e aparecem pontualmente, sem se desviar do recurso narrativo ao qual são designados. O clímax e o momento da grande revelação são muito significativos, pois concedem uma resposta que, olhando para trás, deveria ser obvia, mas acaba se mostrando surpreendente da mesma forma, o que é o espírito de toda boa história de investigação. Infelizmente, a ideia também é um pouco discrepante, devido à eventos do plano criminoso que podem ser considerados pelo público um absurdo sem nexo. Isso vai depender da reação de cada um.
Abordando o lado metafórico e subliminar, o filme faz críticas à política de anti-imigração conservadora que vêm crescido nos Estados Unidos. Johnson realiza uma discussão sobre o conservadorismo e o fascismo velado da sociedade. O diretor usa os membros da família para demonstrar a hipocrisia das supostas “pessoas de bem” e fazer uma analogia à capacidade humana de interesse, parasitismo e leviandade.
Apesar de tudo isso, o gênero que predomina no filme é a comédia dramática; repleta de situações irônicas e alfinetadas entre os personagens. A graça da trama também está nas sátiras feitas através dos personagens.
O personagem de Daniel Craig, Benoit Blanc, é uma sátira do modelo literário do detetive particular britânico genial. Craig, ao que parece ser intencional, atua de forma maniqueísta, fazendo monólogos poéticos que em certos momentos tornam o personagem entediante. Durante o filme inteiro ele aparenta ser um clichê bobo, mas é no fim da trama que ele mostra ser realmente brilhante como todo personagem desse tipo. Destaque para um dialogo hilário envolvendo rosquinhas.
Para aqueles que duvidaram que Chris Evans, o eterno Capitão América, não conseguiria se desvencilhar da imagem do perfeito e justo sentinela da liberdade para fazer um riquinho babaca, essas pessoas se enganaram. Evans é versátil e consegue fazer bem o papel de um sujeito malicioso e gozador.
Mas o destaque fica para Ana de Armas. A atriz latina oferece um desempenho excepcional, com uma atuação pontuada em momentos de grande magnitude emocional. A artista protagoniza momentos de tensão, drama e confusão que a tornam digna de uma possível futura indicação em sua carreira. Ela realiza uma interpretação empática de uma pessoa de bom coração, que possuí uma particularidade peculiar. Os acontecimentos do filme envolvendo a personagem também servem como uma crítica vigente ao racismo contra os imigrantes, e que mesmo as pessoas tolerantes, não são tão corretas quanto pensam.
Também vale ressaltar a boa interação entre a atriz com Daniel Craig, o que desperta curiosidade para ver será essa mesma divisão de tela no próximo filme do ator como James Bond, onde a jovem fará uma Bond Girl.
Entre Facas e Segredos é a volta por cima de Rian Johnson, um filme divertido, cheio de reviravoltas e que se mostra um excelente entretenimento.
Nota: 4 / 5
Colaborou com a crítica: João Vitor, jornalista convidado pela Be Geeks
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