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Paulo Lídio

Ford vs Ferrari | Crítica: Na briga das gigantes do automobilismo, quem ganha é o espectador


A disputa histórica entre Ford e Ferrari ganhou as telas de cinema em 2019 (Imagem: Fox / Divulgação)

A disputa histórica entre Ford e Ferrari ganhou as telas de cinema em 2019 (Imagem: Fox / Divulgação)

O esporte por si só é um motor que une paixões. Uma delas é o automobilismo, que através dos anos manteve seu status glamouroso perante seus fãs. Entretanto, se hoje é assim, no passado o amor pelos carros era ainda maior. Sem internet ou TV a cabo, as opções eram conferir as corridas através do rádio, TV preto e branco ou nos jornais do dia seguinte.

E através de tudo citado acima, somos levados a atmosfera recriada pelo filme Ford vs Ferrari, que não apenas ilustrou uma das maiores rivalidades de todos os tempos no automobilismo, mas também soube nos transportar ao passado para reviver o clima empolgante das 24 Horas de Le Mans, em 1966. Bebendo da fonte do filme “Rush – No Limite da Emoção” (2013), o longa até possui uma temática parecida, mas deixa claro que possui sua própria personalidade para nos contar sua própria história.

Ford vs Ferrari é um longa baseado em fatos reais que mostra a disputa histórica da montadora americana contra a italiana, justamente em uma época que o automobilismo estava em plena expansão e cada vez mais valorizado mundo a fora. E para ilustrar esse capítulo tão importante na história do esporte, dois grandes personagens da época foram levados às telonas de maneira empolgante e que de cara criam uma grande empatia com o espectador. Carroll Shelby (Matt Damon) é um ex-piloto que precisou se aposentar devido a problemas cardíacos, mas que como quase todos os atletas aposentados, não soube como superar a sua precoce retirada das pistas. Todavia, para não se afastar do ramo automobilístico, Shelby abre sua própria concessionária de carros, além de ter uma equipe de corrida amadora com seu amigo Ken Miles (Christian Bale), tido como um excelente piloto, mas que, graças ao seu temperamento mais explosivo do que gasolina, nunca conseguiu vingar na carreira profissional. No meio da vida destes dois fanáticos por carros aparece Lee Iacocca (Jon Bernthal), que aposta na dupla para convencer o magnata Henry Ford II (Tracy Letts) a adentrar ao mundo das 24 Horas de Le Mans como forma de marketing e bater de frente com a toda poderosa Ferrari.

Na pele do piloto Ken Miles, o ator Christian Bale conseguiu emplacar mais um trabalho de destaque e digno de Oscar (Imagem: Fox / Divulgação)

Na pele do piloto Ken Miles, o ator Christian Bale conseguiu emplacar mais um trabalho de destaque e digno de Oscar (Imagem: Fox / Divulgação)

Carroll Shelby é por si só um personagem diferenciado, uma vez que a cada aparição sua em tela nos demonstra o quanto é apaixonado por carros e como aquilo é basicamente o que define o rumo de sua vida. Matt Damon consegue transpor a quem assiste que Shelby está disposto a tudo para retornar aos holofotes do meio em que viveu, mesmo que isso custe em certos momentos a sua amizade e lealdade para com Ken Miles. Aliás, a genialidade de Christian Bale mais uma vez se sobrepôs no longa. O ator acabou por encarnar o piloto Ken Miles, tanto nos trejeitos quanto na aparência, trazendo a todo momento um misto de emoções a quem assiste. O jeito explosivo do personagem nos traz a imersão da importância de tudo aquilo que o personagem vive, porém, sem desvalorizar o entorno pessoal de Ken, que passa por sua esposa Mollie Miles (Caitriona Balfes) e seu filho Peter Miles (Noah Jupe). Não é exagero dizer que a performance de Bale deve ser no mínimo analisada pela Academia e pode render uma indicação ao Oscar, pois na opinião deste que vos fala, é um trabalho digno de se vencer uma estatueta. Vale ressaltar que, devido ao ritmo empolgante e a adrenalina do filme, em muitos momentos a família de Ken Miles torna-se apenas um gatilho emocional para agradar um público mais emotivo, sem trazer relevância à trama.

Aliás, aproveitando o gancho sobre a família acima, o filme comete mais uma pequena derrapada na curva em seu elenco de apoio. Por exemplo, Lee Iacocca (Jon Bernthal) é figura importantíssima para o desenvolvimento da trama, entretanto, após o terceiro ato do longa, sua presença é basicamente nula. O mesmo se aplica a outros personagens que, em tese, deveriam receber mais destaque, mas que suas presenças se tornam apenas relevantes para o encaixe do roteiro. Justiça seja feita, o único personagem no qual temos uma atuação excelente, mesmo que ele praticamente não tenha falas, é a figura de Enzo Ferrari (Remo Girone). A imponência e poder do presidente da montadora italiana é visível e elegante, trazendo um ar ameaçador a todo momento, mesmo que ele não seja o “vilão” do filme.

A atmosfera mostrada em Ford vs Ferrari transporta o espectador direto aos anos 60 e revive a paixão pelo automobilismo (Imagem: Fox / Divulgação)

A atmosfera mostrada em Ford vs Ferrari transporta o espectador direto aos anos 60 e revive a paixão pelo automobilismo (Imagem: Fox / Divulgação)

No quesito técnico, Ford vs Ferrari também consegue impressionar o espectador graças a sua trilha sonora marcante, que sabe dosar perfeitamente os momentos de ação, mas sem esquecer de todo drama que envolve a trama. A pole position vai também para os efeitos visuais do filme, que nos deixa completamente na duvida se algumas cenas são feitas com dublês e carros profissionais ou com CGI. Essa imersão mexe com a adrenalina do espectador, nos levando a sentir cada passada de marcha, a aceleração do motor e as ultrapassagens insanas de Ken Miles. Se possível, caso vá conferir o longa ainda nos cinemas, opte pelo IMAX, você não irá se arrepender da experiência.

A capacidade de James Mangold em reproduzir uma história real do mundo automobilístico é gigantesca, passando desde o casting, ultrapassando o roteiro e liderando a corrida com a emoção na dose certa para os fãs. Na corrida pelo Oscar 2020, eu arrisco dizer que Ford vs Ferrari brigará até o fim pelo pódio, acelerando sem parar da primeira a última volta. Nota: 4,5/5

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