Green Book – O Guia | Um filme essencialmente emocional
Dirigido por Peter Farrelly (Eu, eu mesmo e Irene) e protagonizado pelos atores Viggo Mortensen (O Senhor dos Anéis e Capitão Fantástico) e Mahershala Ali (Estrelas Além do Tempo e Moonlight: Sob a Luz do Luar), Green Book - O Guia é baseado numa verdadeira história de amizade entre o malandro Tony “Bocudo” Vallelonga e o pianista negro “Doc” Don Shirley.
Ambientado em 1963, o longa fala sobre o racismo e a segregação racial da época. Porém, apesar dessa discussão ser uma forte vertente narrativa, a sensação é que a verdadeira marca do filme está na questão emocional dos personagens. Especialmente os de Don Shirley.
Roteirizado por Nick Vallelonga, um dos filhos do protagonista na vida real, o filme, apesar de ser uma dramatização, é muito fiel a diversos fatos históricos e características das figuras abordadas. Após ver o filme, confira a veracidade dos acontecimentos nessa matéria do site History vs Hollywood.
O diretor Peter Farrelly cumpre sua função como cineasta ao entregar um filme simples, mas emocionante. Conhecido popularmente por dirigir comédias, Farrelly não deixa faltar interações de alívio cômico. Apesar de ser um drama, o longa é acompanhado por diversos momentos hilariantes que são gerados pelas situações ou pela dinâmica dos dois personagens que apresentam personalidades contrastantes.
Como uma das questões na história é o racismo, obviamente o longa está repleto de discussões e momentos de tensão no qual o público se depara com situações em que Don Shirley é submetido a humilhações, e nem por isso o personagem abdica de sua dignidade.
O filme está concorrendo a cinco Oscars, dentre eles os de melhor ator e melhor ator coadjuvante. Viggo Mortensen e Mahershala Ali fazem por merecer essas indicações. Mortensen realiza um trabalho fascinante ao dar vida a um ítalo-americano malandro, picareta e grosseirão. Por meio de um sotaque italiano carregado e de idiossincrasias comportamentais, o ator dá vida para Tony de forma visceral.
Mahershala Ali concorre novamente a categoria pela qual foi vencedor em 2017 por sua performance em Moonlight. O ator mais uma vez mostra seu grande talento para o drama ao interpretar uma figura complexa e cheia de conflitos internos e contradições. Don Shirley é um homem aculturado e fino, um prodígio musical que subiu na vida através de talento e dedicação. Contudo, sua figura vai muito além de, como o próprio personagem diz em um momento do filme, "conceitos limitados". O roteiro aborda a falta de identificação do pianista com os próprios negros em si, que o encaram com estranheza e outras vezes com indiferença. A forma como o ator imprime a solidão e a complexidade de seu personagem é discreta, profunda e empática. Shirley não só é uma imagem que desafia os padrões de uma sociedade, como também uma quebra de paradigmas que critica a alienação e a limitação das descrições.
Infelizmente, ao mesmo tempo que o filme consegue ser tocante e cheio de beleza, ele é raso e deixa de se aprofundar em certas coisas, acabando por ter uma narrativa muito simples. Uma das coisas que deixam a desejar no longa e o momento da transição de Tony, o roteiro não permite um respiro para entender se a evolução de pensamento de Tony vem de algum lugar além de sua admiração pelo talento de Don.
Green Book é um filme essencialmente emocional, que cativa o público através da performance dos atores e momentos sentimentais que permeiam essa amizade improvável. A principal beleza do longa está em mostrar como a amizade e o amor podem romper barreiras como idealismo e posição social, afirmando que todo o ser humano tem a capacidade de se conectar ao outro contanto que reduza a força de padrões frios e limitados.
Nota: 4 / 5
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