O Primeiro Homem | Crítica - Empolgante e inspirador!
Ser criança após 1969 é diferente. Ao longo do último século, o homem sonhou em conquistar as estrelas; naquele ano Neil Armstrong mostrou que esse sonho era possível. Que ir ao espaço não era apenas uma fantasia, mas uma chance de conhecer o desconhecido, de correr atrás dos nossos sonhos de criança por mais irreais que fossem. Ir a Lua rompeu barreiras, hipóteses e preconceitos da época. O Primeiro Homem, filme de Damien Chazelle, mesmo diretor de La La Land: Cantando Estações (2016), remonta a história de Neil Armstrong no período no qual trabalhou para a NASA.
A gravação ao vivo da época, a história da Corrida Espacial, a Guerra Fria todo mundo já conhece ou pelo menos já ouviu falar. Porém, Chazelle é capaz de nos surpreender, trazendo consigo uma extensa bagagem de conteúdo dos bastidores da agência de exploração espacial. Baseado na biografia autorizada O Primeiro Homem: A Vida de Neil Armstrong, do historiador James R. Hensen, o longa retrata com fidelidade as dificuldades passadas pelo astronauta.
Visualmente, o filme é belíssimo, como já esperado do trabalho de Chazelle em conjunto com o diretor de fotografia Linus Sandgren, que realizaram La La Land também. O cineasta opta por enquadramentos bem fechados e mais intimistas com a finalidade de justamente focar no lado mais psicológico dos personagens principais, Neil, interpretado por Ryan Gosling, e a esposa Janet, feita por Claire Foy. Talentoso no modo como coordena as sequências de tensão, o diretor faz muito uso do “ponto de vista”, ângulo onde somos colocados na perspectiva de um personagem específico. Dessa forma, além de mais cativante, o filme desperta a sensação de realmente estar dentro de um foguete naquele tempo. É uma experiência imersiva capaz de nos fazer compreender os desafios passados por todos que se esforçaram para que isso acontecesse.
Esse provavelmente deva ser de longe o melhor trabalho de Ryan Gosling, que se entrega ao máximo interpretando Neil. Em entrevistas e já confirmado pelas pessoas próximas a ele, Neil Armstrong costumava ser uma pessoa introvertida, um homem de poucas palavras. Por isso, entrar num papel desses e ao mesmo tempo estabelecer uma conexão com o espectador é um desafio e tanto. Uma tarefa que Gosling consegue cumprir com maestria. Claire Foy é outro destaque da trama. Janet Armstrong é uma personagem que reage muito às decisões do marido, que quer ser muito participativa, pois ela que cuida da casa e dos filhos na maior parte do tempo. Ela atua demasiadamente com os olhos e, muitas vezes sem dizer absolutamente nada, já dá muito significado para o que a personagem sente.
Justin Hurwitz, o homem por trás das trilhas sonoras dos filmes de Chazelle, aparece com mais uma trilha esplêndida, porém nem um pouco memorável. Ela é surge em momentos bem precisos, deixando-se extravasar na cena do lançamento da Apollo 11, que, aliás, como todo desfecho dos longas do diretor, entrega um final catártico. Entretanto, ao contrário de Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014) e La La Land, nos quais saíamos das salas de cinema com as músicas do filme na nossa lembrança, não acontece o mesmo com este.
Empolgante a ponto de tirar o fôlego, O Primeiro Homem retrata os bastidores de um dos momentos mais importantes da nossa história recente. Pressionado por uma nação inteira, a história é muito mais sobre quantas derrotas pessoais sofremos para conquistar algo grandioso do que a disputa ideológica da Guerra Fria que já vimos nos livros didáticos da escola. Como todo herói de verdade, Neil Armstrong foi apenas um homem comum com uma forte motivação.
Nota: 4,5/5
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