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Paulo Lídio

Preacher – 3ª Temporada | Crítica: Fidelidade extrema aos quadrinhos


Quando foi anunciado ao final de 2015 que os quadrinhos de Preacher, do selo Vertigo, da DC, seriam adaptados para live-action, os fãs ficaram apreensivos. Porém, essa preocupação logo tornou-se em satisfação. A AMC soube produzir uma série que pouco se importava com o politicamente correto. Pelo contrário, o objetivo por parte de Sam Catlin, Seth Rogen e Evan Goldberg era reproduzir com fidelidade as HQs de Garth Ennis e Steve Dillon, criadores de Preacher.

Um dos pontos positivos nessa temporada foi a opção por mudar o rumo dos protagonistas. Na segunda temporada tivemos Jesse Custer (Dominic Cooper), Tulip O’Hare (Ruth Negga) e Cassidy (Joseph Gilgun) realizando sua busca incessante por Deus (Mark Harelik), onde eles finalmente acabam caindo em um beco sem saída. Sem o poder do Genesis e percebendo que está prestes a perder o amor de sua vida, Jesse não vê opção a não ser recorrer ao seu passado. Neste ponto somos introduzidos aos novos personagens da série, que agregam um valor imensurável ao protagonista. Marie L’angelle (Betty Buckley) é a avó materna de Jesse Custer e vive com seus “filhos”, TC (Colin Cunningham) e Jody (Jeremy Childs), na cidade de Algelville, terra natal do Pastor. O visual dos personagens é o mais fiel possível ao material de origem dos quadrinhos, tanto na caracterização quanto nas personalidades. Aliado a isso, fica evidente que um vazio das temporadas anteriores foi preenchido, que é o passado de Jesse Custer. Finalmente entendemos as suas motivações e traumas através de flashbacks de sua infância e adolescência, além de ficar claro que realmente sua família é amaldiçoada.

Mas, se a temporada se dedica a explicar o passado de Jesse Custer, como ficam Tulip e Cassidy no meio disso tudo? Bom, os roteiristas souberam muito bem aproveitar os outros dois protagonistas com suas próprias jornadas individuais; todavia, sem se desvincular da trama principal. Enquanto Tulip busca de uma vez por todas resolver sua vida pessoal, tanto em relação a Jesse quanto em relação a história da família O’Hare, ela descobre que seu passado possui problemas muito além das famílias comuns. Quanto ao vampiro irlandês Cassidy, podemos dizer que ele obteve finalmente o destaque merecido. Depois de roubar muitas vezes a cena nas temporadas anteriores, agora ele parte em sua jornada solo em busca de autoconhecimento, ou, simplesmente esquecer que não terá o amor de Tulip. Já conhecido por seu humor ácido, viciado em drogas e pela imortalidade, Cass fica sabendo que não é o único vampiro no mundo moderno, o que lhe faz refletir se quer ou não ser parte disso.

Introduzidos na temporada anterior, o Graal retorna com o propósito de por o seu plano principal em ação: trazer o Messias de volta como líder mundial. Entretanto, a história da seita não se resume mais apenas em Herr Starr (Pip Torrens) e seus dois capangas desengonçados. Finalmente temos a introdução de Allfather (Jonny Coyne), líder do Graal, que tem como objetivo fazer o 17º e único herdeiro de Jesus Cristo (Tyson Ritter), apelidado de Humperdoo. Essa ideia vai totalmente contra os planos de Herr Starr, que após perceber que o atrapalhado Humperdoo não possui as características para ser o novo Messias, tenta com todas as suas forças e influências fazer com que Jesse Custer seja o salvador da humanidade, juntamente com seu poder do Genesis.

Obviamente que nem tudo são mil maravilhas. Apesar de retornar com personagens marcantes como o Santo dos Assassinos (Graham McTavish), o arco construído em torno de Eugene/Cara de Cú (Ian Colletti) é fraco. Apresentando a vida do jovem enquanto tenta escapar do inferno, os roteiristas tentam retornar o ponto de amizade dele com Hitler (Noah Taylor). Mesmo com cenas engraçadas mostrando o ex-líder nazista na tentativa de levar uma vida pacata e se redimir, não existe profundidade e necessidade de levar isso às telas. Entretanto, mesmo com esse arco fraco, tivemos a introdução de outros personagens importantes (sem spoilers) que agregam valor ao produto final da série.

Todavia, os efeitos especiais seguem cada vez melhores. Por se tratar de uma série onde tudo é possível, as cenas recebem uma estética toda especial. Seja em câmeras lentas para evidenciar brigas e tiros, ou, flashbacks em preto e branco com temáticas alternativas, diálogos de personagens no passado, presente e futuro, planos alternativos e uma fotografia de se fazer inveja a séries premiadas do primeiro escalão. A parte musical do seriado também segue em alta, com trilhas sonoras instrumentais casando com os momentos certos e dando a devida sensação nos momentos de ação, tensão, etc. Inclusive, as músicas parecem ter sido muito bem selecionadas do Spotify dos personagens, de tão conectadas e precisas que são.

O final da 3ª temporada de Preacher tomou o caminho esperado durante todos os 10 episódios do seriado. Indo mais além, a fidelidade aos quadrinhos seguiu em alto nível e o próximo arco a ser adaptado promete ser um dos mais tensos para os fãs das HQs. Se você gosta de séries curtas, objetivas, com muitos palavrões, violência e politicamente incorreta, não perca mais tempo. Preacher é uma das séries mais regulares e que sabe manter o nível desde a sua estreia, inclusive, evoluindo temporada após temporada.

Nota: 4,5/5

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