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Paulo Lídio

Punho de Ferro – 2ª Temporada | Crítica: Melhor, porém rumo ao ideal


Apesar de ainda muito recente, o universo da Marvel na Netflix começa a se estabilizar aos poucos. Mesmo com algumas séries sendo um sucesso absoluto de crítica e audiência (Demolidor, Jessica Jones e Justiceiro, por exemplo), outras vem sofrendo problemas com sua construção. Quase que uma opinião unânime entre os fãs, a série que teve mais problemas até agora foi Punho de Ferro. Muito por culpa do showrunner Scott Buck, responsável também pelo fracasso da série dos Inumanos, o seriado falhou em introduzir o misticismo junto aos demais Defensores da Netflix. Indo mais além, falhas banais puderam ser observadas durante o primeiro ano do seriado: diálogos rasos, péssimas coreografias de lutas, elenco de apoio mediano e um protagonista com pouca empatia.

Mas, como tudo ligado a casa das ideias, Punho de Ferro mostrou que ainda pode ser salva. O personagem conseguiu cativar os fãs através da série dos Defensores, onde visivelmente o ator Finn Jones obteve melhor treinamento para lutas, além é claro de um roteiro melhor elaborado para tirar o melhor de sua performance. A fagulha final para mostrar aos espectadores que valeria a pena dar mais uma chance ao personagem veio na segunda temporada de Luke Cage. Apesar de se tratar apenas de uma participação especial, os fãs puderam observar que o Imortal Punho de Ferro ainda poderia ser importante ao universo Marvel/Netflix, funcionando como o “coração” dos heróis de Nova Iorque. Com a contratação de Raven Metzner (Elektra, Falling Skies, Sleepy Hollow), o herói ganhou um fôlego maior e uma nova chance de mostrar sua relevância para o seu próprio universo.

Isto posto, é inegável que a própria Netflix achou uma solução para o seu maior problema desde o início das séries de heróis. O padrão de 13 episódios por temporada (exceto em Os Defensores, com 8 episódios) gerava grande reclamação por parte dos fãs. Exceto em casos de sucesso como Demolidor e Jessica Jones, os demais seriados sofriam com o ritmo denso das tramas, com uma alta carga dramática, gerando um cansaço em assistir todos os episódios. Fora que, em muitos casos, haviam episódios onde a série acabava “enchendo linguiça” com tramas paralelas, que definitivamente não agregavam valor ao produto final. A segunda temporada de Punho de Ferro, com 10 episódios, pode não ser o melhor roteiro já produzido pela Marvel, porém está anos luz a frente de seu primeiro ano.

Outro ponto que merece destaque é o fato do segundo ano da série não possuir uma trama fixa. Para alguns isso pode soar como um defeito, mas para um seriado que sofreu com uma história fraca e forçada na primeira temporada, é interessante ver que os personagens possuem seus próprios problemas a resolver. Inclusive, essa opção dos roteiristas abriu margem para introdução de pessoas que à primeira vista parecem meros coadjuvantes irrelevantes. Porém, no decorrer da série, suas verdadeiras faces são reveladas, a ponto de interferir diretamente na resolução do seriado.

A manutenção do elenco da primeira temporada de Punho de Ferro foi arriscada, mas com o tempo provou ser um acerto. Sob o comando de Scott Buck, o seriado possuía personagens rasos e atores com interpretações no mínimo questionáveis. Raven Metzner soube fazer o básico e explorar o potencial de cada ator, mostrando que muitas vezes o simples acaba sendo a melhor solução. Danny Rand (Finn Jones) deixou de ser o menino mimado da primeira temporada e agora possui sua própria jornada de autoconhecimento. Os irmãos Joy Meachum (Jessica Stroup) e Ward Meachum (Tom Pelphrey) finalmente conseguem demonstrar empatia com os espectadores e desenvolver suas tramas separadamente, mesmo que os eventos do primeiro ano ainda influenciem diretamente suas vidas, deixando claro que a temática principal deste ano da série são os traumas do passado de todos os personagens.

O ponto alto principal da série possui nome e sobrenome: Colleen Wing (Jessica Henwick). No primeiro ano do seriado a personagem já havia roubado a cena com suas coreografias de luta e por muitas vezes ter uma trama mais destacada que a do próprio protagonista. Mas, dessa vez, o destaque é definitivo. A trama de Colleen nos da muitas vezes a sensação de que ela é tudo aquilo que esperamos do protagonista, cativando o público com sua jornada de redenção. Entretanto, a sua parceria com a policial Misty Knight (Simone Missick) mostra o que há de melhor entre relacionamentos durante os 10 episódios. As famosas “Filhas do Dragão” dos quadrinhos são bem adaptadas na série, com uma dinâmica leve, divertida e repleta de ação no mais alto nível. Assim como foi com O Justiceiro, que ganhou uma série solo depois de se destacar na segunda temporada de Demolidor, não se surpreenda caso a Netflix anuncie em breve um spin off com as duas personagens.

Provando que soube evoluir em todos os quesitos, a segunda temporada de Punho de Ferro também soube melhorar seus vilões. Mesmo não confirmando todo o potencial demonstrado em sua participação na primeira temporada, Davos (Sacha Dawhan) consegue ao menos confirmar-se como uma ameaça letal a Danny Rand como o Serpente de Aço. Não se trata de um vilão memorável como outros que assistimos nas séries da Marvel com a Netflix, entretanto, sua motivação e poderes trazem no mínimo a sensação de perigo iminente ao herói. Todavia, a principal revelação no segundo ano de Punho de Ferro é a vilã Mary Tyfoid/Mary Walker (Alice Eve). Apresentada na série como uma personagem que nos da a impressão de ser apenas mais uma coadjuvante, Mary aos poucos demonstra sua verdadeira face. Aliás, mais de uma, visto que a vilã possui transtorno de múltiplas personalidades, fazendo com que não saibamos com quem realmente estamos lidando em diversas situações. Um trabalho genial da atriz Alice Eve, onde em um único papel, interpreta mais de uma personagem, todos com maestria.

Com a melhora e aperfeiçoamento em quase todos os setores, esperava-se que o mesmo fosse aplicado nos efeitos especiais. Apesar do herói depender cada vez menos do Punho de Ferro, toda vez que ele faz uso desde artifício, fica evidente a economia dos produtores com este setor. O excesso de simplicidade no punho brilhante de Danny Rand muitas vezes faz os fãs não acreditarem naquilo que torna o herói diferenciado, o fato de lidar com a realidade com misticismo ao mesmo tempo. Na mística cidade de K’un-Lun, o problema acaba sendo o mesmo. Fica difícil acreditar na sua importância, visto que sua aparência mais lembra um "resort hipster" dos tempos modernos. Aliás, nós entendemos que o orçamento de um filme da Marvel não se compara com o das séries, mas, definitivamente é possível fazer algo melhor para o futuro.

Mesmo destacando os principais acertos e erros, pequenas questões devem ser respondidas eventualmente caso uma terceira temporada seja confirmada: O Imortal Dragão Shou-Lao dará as caras na série? Teremos um uniforme que lembre o dos quadrinhos para Danny Rand? É difícil dizer, mas a evolução de Punho de Ferro e a maior preocupação da Netflix em produzir um conteúdo com mais detalhes e conexões com o MCU faz com que as esperanças sejam renovadas. Trata-se de uma aposta de risco, porém, é possível que o melhor de Danny Rand ainda esteja por vir.

Nota: 3/5

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