Titans – 1ª Temporada | O DC Universe veio para ficar
É inegável que o grande público brasileiro, exceto os leitores mais assíduos de quadrinhos, conhece os Jovens Titãs devido às animações. A primeira versão animada foi lançada em 2003 com uma abordagem um pouco mais séria em relação a sua mais recente, intitulada ‘Jovens Titãs em Ação’, de 2013. O tom mais leve dos personagens em ambas versões mexeu com o imaginário do público, que de cara mostrou-se bem temeroso quando o serviço de streaming DC Universe foi inaugurado e anunciou que a sua primeira série original seria ‘Titans’. Quando as imagens começaram a vazar, pode-se dizer que a internet foi abaixo com comentários negativos em relação à caracterização dos personagens e à tonalidade da fotografia empregada no seriado. Algo que lembrava muito o DCEU iniciado por Zack Snyder com o longa Homem de Aço (2013). Todavia, o produto final soube mostrar que a DC montou um excelente serviço de streaming, além de garantir que uma série original como Titans pode sim conquistar o público com uma versão live-action e mais sombria de seus personagens.
Com um total de 11 episódios, o seriado opta pelo tradicional modelo de mostrar a origem dos heróis. Obviamente que todos possuem o seu devido peso, entretanto é inegável que Robin/Dick Grayson (Brenton Thwaites) possuía a maior responsabilidade por parte da produção. O primeiro ajudante do homem-morcego e líder dos Titãs tem sua própria jornada durante a trama: lidar com os fantasmas do passado e com a escuridão adquirida depois de muitos anos em Gotham City, onde conviveu com um Batman autoritário e mais preocupado com o mundo do que com as pessoas a sua volta. É interessante a maneira como a série soube adaptar um elemento tão próximo ao universo do Vigilante de Gotham e mesmo assim deixa-lo tão independente do Cavaleiro das Trevas, uma vez que temos um Dick Grayson trabalhando como detetive em Detroit, porém sempre com referências diretas a sua cidade natal e seu passado como ‘Garoto Prodígio’, o que sempre acaba rendendo boas cenas de ação.
Talvez aquela que tenha sido a escolha mais polêmica do seriado desde o seu anúncio foi Estelar/Kory Anders (Anna Diop). Surpreendentemente tivemos uma onda de haters na internet, que levaram a atriz a suspender suas redes sociais temporariamente, questionando a escolha de uma negra para o papel da uma alien. No entanto, além do fato de que sempre se deve escolher uma atriz devido a sua qualidade de atuação, outro ponto a ser analisado é a personagem e a sua plataforma de adaptação. A Estelar é uma personagem com a cor de pele laranja, com poderes advindos da energia solar, logo, em quesitos de maquiagem e CGI, os gastos seriam gigantescos. Tudo bem que muitos reclamaram da caracterização das roupas, que realmente ficou abaixo de um nível bom. Porém, a atuação de Anna Diop elevou a personagem em um nível de importância enorme. A imponência de Estelar com seus poderes com um lado ‘badass’ que ainda não havia sido visto por parte do grande público e seu relacionamento com os demais Titãs fazem dela muitas vezes até mais relevante do que o próprio Robin.
Mesmo sendo membros importantes na formação dos Titãs, Rachel/Ravena (Teagan Croft) e Gar/Mutano (Ryan Potter) recebem arcos que demoram para se encontrar, porém que conseguem cativar o público e deixar um gosto de "quero mais" para as temporadas seguintes. Em si, a trama principal da série é envolta da Ravena e como combater as forças malignas dentro dela, geradas por seu pai, o demônio Trigon (Seamus Dever). Quem conhece a personagem dos quadrinhos e animações se surpreende um pouco ao ver uma Ravena tão jovem e indefesa, mas é interessante ver a jornada da heroína para descobrir se realmente possui um dom ou maldição dentro de si. A maior dificuldade mesmo acaba sendo a inexperiência da atriz, que por diversas vezes oscila entre ótimas cenas dramáticas, enquanto em outras oportunidade torna-se simples demais, algo inerente em jovens iniciantes. O plot do jovem Mutano é parecido, mas sem tanta ‘escuridão’ durante o percurso. Ele é um personagem divertido, que não ficou limitado apenas ao alívio cômico. Inclusive, é muito comum o público se identificar com ele em relação ao modo ‘fã service’, onde a todo momento ele mostra a sua alegria em fazer parte do grupo de super-heróis e estar perto dos sidekicks do mundo. Sua origem foi mudada em alguns pontos se levarmos em conta os quadrinhos e as séries animadas. Além do fato de não ter a pele verde durante todo o tempo, sua transformação em diversos tipos de animais ficou limitada apenas a forma de um tigre verde, algo que é explicado no decorrer dos episódios. Contudo, mesmo com essa explicação simples, é nítido que o personagem sofreu o mesmo problema que a Estelar: falta de orçamento para investir em CGI. Todavia, não se ouviu o mesmo estardalhaço como foi feito em cima da Estelar de Anna Diop.
Duas coisas que podem ser citadas em Titans que geram divergências entre os espectadores, mas que não necessariamente se tratam de itens ruins, são as caracterizações dos personagens e a tonalidade da série. Se por um lado temos uniformes fiéis ao material base dos quadrinhos como Robin, Patrulha do Destino, Rapina e Columba, por outro lado temos o problema na adaptação de Estelar e Mutano, por exemplo. Alguns podem não se importar com isso ao ver que a história foi bem desenvolvida, deixando uniformes em segundo plano. Entretanto, os mais exigentes, sentem falta desse aspecto pois este acaba por descaracterizar personagens tão tradicionais e que fazem parte do nosso imaginário desde jovens. Quanto ao tom utilizado, basta citarmos o que ocorre com o WODC (Worlds of DC) nos cinemas em relação a fotografia e roteiro. Há quem ame e também há quem odeie Homem de Aço (2013) e Batman vs Superman (2016), ambos dirigidos por Zack Snyder, onde houve uma abordagem mais séria em relação aos personagens clássicos da DC e um tom mais escuro que o público não estava acostumado. Caso você goste disso, Titans será um prato cheio para você. Todavia, se você prefere algo mais próximo de Mulher-Maravilha (2017) e o recente Aquaman (2018), você pode se decepcionar na questão técnica da fotografia, porém o roteiro e o desenvolvimento dos personagens acabam por compensar essa questão.
Mesmo com cada personagem possuindo seu arco próprio, o principal ponto de funcionamento de Titans se dá quando todos estão juntos, onde um acaba complementando o outro. A harmonia formada pelos personagens nos dá a entender que cedo ou tarde teremos oficialmente um time de super-heróis chamada pelo nome de Jovens Titãs, assim como nos quadrinhos e animações. Aliado a isso, temos um excepcional elenco de apoio. No qual os produtores deixam claro que o DC Universe trabalhará com séries formando um universo expandido através dos personagens que nos são apresentados: Rapina e Columba, Patrulha do Destino, Moça-Maravilha, Jason Todd, dentre outros. Se a intenção da DC era construir um universo forte e duradouro, a missão iniciou-se com sucesso, deixando ganchos para próximas temporadas e criando expectativas em quem assiste. Por isso, não precisamos mais ter medo de dizer: Seja bem-vindo, DC Universe. Observação 1: o episódio final contém uma cena pós créditos. Observação 2: a série está disponível no serviço de streaming DC Universe, porém estreia na Netflix brasileira em 11/01/2019. Nota: 4,5/5
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